quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Vamos rir ...

MINEIRIM NO RIDIJANEIRO
Um mineirim tava no Ridijaneiro, bismado cas praia, pé discarço, sem camisa, caquele carção samba canção, sem cueca pur dibacho. Os cariocas zombano, contano piada de mineiro. Alheio a tudo, o mineirim olhou pro marzão e num se güentô: correu a toda velocidade e deu um mergúio, deu cambaióta, pegô jacaré e tudo mais. Quando saiu, o carção de ticido finim tava transparente e grudadim na pele. Tudu mundo na praia tava oiano pro tamanho do "amigão" que o mineirim tinha. O bicho ia até pertim do juêio...A turma nunca tinha visto coisa igual. As muié cum sorrisão, os homi roxo dinveja, só tinham olhos pro bicho. O mineirim intão percebeu a situação, ficou todo envergonhado e gritou: -Qui qui foi, uai? Seus bobãom... vão dizê qui quando oceis pula na agua fria, o pintim doceis num incói tamém??
(Fonte: Ilustração/Mensagem - Internet)

Poesia (maravilhosa) de Thiago de Mello

ESTATUTO DO HOMEM
(Ato Institucional Permanente) A Carlos Heitor Cony
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade. / agora vale a vida, / e de mãos dadas, / marcharemos todos pela vida verdadeira. /
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,/ inclusive as terças-feiras mais cinzentas, / têm direito a converter-se em manhãs de domingo. /
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante, / haverá girassóis em todas as janelas, / que os girassóis terão direito / a abrir-se dentro da sombra; / e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, / abertas para o verde onde cresce a esperança. /
Artigo IV
Fica decretado que o homem / não precisará nunca mais / duvidar do homem. / Que o homem confiará no homem / como a palmeira confia no vento, / como o vento confia no ar, / como o ar confia no campo azul do céu. /
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem / como um menino confia em outro menino. /
Artigo V
Fica decretado que os homens / estão livres do jugo da mentira. / Nunca mais será preciso usar / a couraça do silêncio / nem a armadura de palavras. / O homem se sentará à mesa / com seu olhar limpo / porque a verdade passará a ser servida / antes da sobremesa. /
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos, / a prática sonhada pelo profeta Isaías, / e o lobo e o cordeiro pastarão juntos / e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora. /
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido / o reinado permanente da justiça e da claridade, / e a alegria será uma bandeira generosa / para sempre desfraldada na alma do povo. /
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor / sempre foi e será sempre / não poder dar-se amor a quem se ama / e saber que é a água / que dá à planta o milagre da flor. /
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia / tenha no homem o sinal de seu suor. / Mas que sobretudo tenha / sempre o quente sabor da ternura. /
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa, / qualquer hora da vida, / o uso do traje branco. /
Artigo XI
Fica decretado, por definição, / que o homem é um animal que ama / e que por isso é belo, / muito mais belo que a estrela da manhã. /
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado / nem proibido, / tudo será permitido, / inclusive brincar com os rinocerontes / e caminhar pelas tardes / com uma imensa begônia na lapela. /
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida: / amar sem amor. /
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro / não poderá nunca mais comprar / o sol das manhãs vindouras. / Expulso do grande baú do medo, / o dinheiro se transformará em uma espada fraternal / para defender o direito de cantar / e a festa do dia que chegou. /
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade, / a qual será suprimida dos dicionários / e do pântano enganoso das bocas. / A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio,/ e a sua morada será sempre o coração do homem.
Thiago de Mello / Santiago do Chile, abril de 1964
(Foto - Internet)